A velha máxima (16/11)
Resta a Assad e aliados ameaçar o mundo com a conflagração geral. Mas uma regra não escrita ensina que ameaçar com o caos e o apocalipse é recurso dos fracos, nunca dos fortes
Pouco menos de um ano após a eclosão das revoltas árabes, o processo parece longe de estancar. A bola da vez é a Síria, cujo regime caminha para o isolamento irreversível e o fim previsível.
Claro que em política tudo, ou quase, é possível. Mas se Bashar Assad sobreviver ao cerco será um milagre daqueles. Para figurar em páginas nobres nos livros de História.
Tem restado a Assad e aliados ameaçar o mundo com uma conflagração em larga escala. No cenário mais apocalíptico, Irã e Hezbollah arrastariam Israel ao conflito, alterando o caráter da disputa.
Parênteses. Uma regra não escrita ensina que ameaçar com o caos e o apocalipse é recurso dos fracos, nunca dos fortes.
Na universalização do conflito agitada por Damasco a luta para apear um regime despótico cederia lugar ao combate pan-islâmico contra os Estados Unidos e seu campo.
E o movimento das massas árabes e islâmicas viveria uma mudança qualitativa, passaria a um novo patamar. Anti-imperialista.
Mas é improvável que aconteça assim.
Durante a Guerra do Golfo Sadam Hussein lançou mísseis sobre Israel para tentar provocar uma resposta israelense, o fato novo que permitiria ao líder iraquiano romper a frente adversária que se fechava sobre ele como tenaz.
Ação militar em que aliás a Síria estava aliada aos Estados Unidos.
Não deu certo. As tropas iraquianas foram expulsas do Kuait e uma década depois o próprio Sadam acabou na forca.
A Síria terá dificuldade de arrastar outros jogadores para o palco do infortúnio exatamente porque cada um zela em primeiro lugar pelo próprio pescoço.
E os regimes árabes e muçulmanos, mais ou menos despóticos, cuidam neste curto prazo, antes de tudo, da própria sobrevivência. O episódio líbio deve ter sido pedagógico.
É improvável que as imagens de um antes poderoso Muamar Gadafi barbaramente agredido, seviciado e morto não tenham tido efeito dissuasório entre os colegas,. Pelo menos entre os que ainda não cruzaram o rubicão.
E os sinais emitidos pelas potências são claros: há espaços na nova ordem, desde que o sujeito não tenha ultrapassado certos limites. E que escolha o lado, digamos, certo.
Um bom exemplo é o Líbano. O Hezbollah é a força hoje hegemônica, vem no ápice do poderio militar, mas anda politicamente tolhido, exatamente pelo peso específico que alcançou.
Eventual ataque da guerrilha xiita a Israel desencadearia contra-ataque devastador. E as demais forças libanesas não parecem dispostas a provocar uma tragédia nacional para defender a enfraquecida cúpula alauita de Damasco.
O momento do Irã é semelhante. Os iranianos precisam de tempo para concluir os passos necessários ao domínio da tecnologia nuclear bélica. Todos os movimentos de Teerã são para “comprar” tempo.
Inclusive para decidir se vão até o fim na empreitada. Uma dúvida com potencial para rachar o núcleo dirigente. Pois no melhor desdobramento o Irã se transformaria na potência regional hegemônica. Mas há o pior, em que deixaria de existir como nação independente.
Uma escolha e tanto.
Na operação para obter tempo o Irã conta com blindagens importantes, o Brasil incluído. Escorregar para a guerra prematuramente seria um erro. Correria o risco de perder aliados políticos e não teria chance no cenário militar.
O colapso de Assad constituirá um problema para Teerã, mas sempre será possível buscar o modus vivendi com eventuais sucessores.
Afinal, o Oriente Médio comprova a velha máxima de que a política é também a arte de estar pronto a se aliar com qualquer adversário, e a romper com qualquer aliado.
E agora?
O relatório mais recente da Agência Internacional de Energia Atômica deixa claros os passos do Irã para trilhar o caminho do poderio nuclear para fins militares.
Aguarda-se o que o Brasil fará a respeito. Provavelmente nada. O que apenas reforçará uma suspeita. Alguém concluiu, por algum motivo, que o Brasil tem a ganhar com um Irã nuclear.
Falta só explicar ao povo brasileiro o porquê.
Lá atrás o Brasil podia pretextar uma dúvida razoável a respeito dos objetivos bélicos do programa iraniano. Luiz Inácio Lula da Silva agarrou-se nisso até o fim.
Mas, e agora?
Coluna (Nas entrelinhas) publicada nesta quarta (16) no Correio Braziliense.
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4 Comentários:
Por ocasião da tentativa brasileira de obter protagonismo na política internacional, aparentemente, o Brasil usou retórica resvalando para o belicismo no caso iraniano.
Por mais oblíquos que tenham sido os discursos, eles deixavam sinais de que pretenderia dar "um chega para lá" na AIEA/CNP.
Ou seja, deixar o caminho aberto para tentar ter sua própria bomba A.
O discurso oblíquo, porém, fez com que a linguagem fosse uma espécie de "bumerangue" do mundo. Idas e voltas sem acertar ninguém. Exceto as próprias pretensões, quando as potências resolveram dar um basta aos arroubos.
O Brasil pode ter perdido uma grande chance de fortalecer-se, ganhar protagonismo pela paz, naquela ocasião. Ao contrário, tentou uma via de ranger de dentes. Perdeu.
Credenciar-se, agora, quando, talvez, fosse mais necessário e oportuno, fica muito mais difícil. Isso porque as brasas estão um pouco mais acesas. E parece ficar mais evidente ter o Brasil ajudado o Irã a "ganhar tempo", em uma situação muito sensível.
Quando haviam mais chances para a paz, teria condições fazer muita coisa e perdeu-se. Em situação de guerra, o Brasil não poderá fazer absolutamente nada. Exceto, ficar quieto.
Por que tanta certeza? Quem as tem com exclusividade é Obama e Benjamin Netanyahu.Os demais, prosseguem no oba-oba , em que se converteu diplomacia ocidental.
As coincidências da deflagração da"primavera árabe",mesmo com descuidado olhar sobre o mapa,as dúvidas se dissipam: do Mediterrâneo ao Vermelho,um oceano de petróleo da melhor qualidade separa os dois mares.Israel com assentimento do Departamento de Estado,bombardeou a usina nuclear do Iraque,como se fora a coisa mais banal entre os desafeto.E,mais bombardearia quanto mais fossem as usinas supostamente a lhe ameaçarem.
Revisitando a história,os momentos de instabilidade econômica,indefinição política,temor pelo destino nacional dos cidadãos pelos seus países exacerbam as condições das respostas extremas e radicais para seus problemas
de sobrevivência.Preocupa,profundamente, a intempestiva participação da Otan com apoio da ONU,com ingerência,participação,ação e execução na aventura líbia.
Prefácio, embora queiram fazer crer, tratar-se de um epílogo.
E qual a alternativa para o Irã senão a Bomba Atômica?
Ou alguém tem alguma dúvida de que um ataque ao Irã por Israel e as potências Ocidentais seja apenas uma questão de tempo?
Se tiver que escolher entre viver em Israel ou Irã, não tenho duvidas que escolheria o Estado Judeu. Mas isso não me impede de constatar que Israel usa da estratégia de criar um fato consumado para tomar as terras árabes.
É de duvidar, sim, que haja um ataque ao Irã. Pode ser até que exista quem queira. Notadamente quem acredite que guerras criam heróis e não cadáveres.
Ataque de tal monta, com dia, hora e local anunciado? Onde está a lógica disso?
A alternativa do Irã é a mesma do Brasil e outros países que não têm a bomba A: não construir bombas e utilizar o pouco fosfato, para pensar em coisas mais importantes, do que querer que seu povo seja incinerado.
Para azar das cassandras, não vai ocorrer ataque algum. E assim, os vendedores de fósforos acesos em paiol, não poderão chorar pelos iranianos mortos. Os cidadãos iranianos agradecem se pararem de colocá-los como um monte de carne calcinada.
Quanto ao petróleo, para quem era, é e continuará sendo vendido o óleo do Norte da África e do OM?
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