Mais uma obra (29/09)
Nem consigo me lembrar da última vez que assisti a tamanha movimentação na assim chamada “sociedade civil”, expressão bem usada até a queda da ditadura
Foi o presidente da República quem introduziu a polêmica sobre liberdade de imprensa neste desfecho de primeiro turno. Luiz Inácio Lula da Silva explodiu contra a “mídia” num comício em Campinas (SP). Depois aparentemente acalmou-se e procurou acalmar os companheiros, noutro comício em Porto Alegre (RS).
A discussão sobre a liberdade de imprensa matou aquela mais complicada, sobre corrupção na Casa Civil. Mas Lula teve algum azar (coisa rara). Avaliou mal a reação que viria. E em seguida ao desconforto causado pelo discurso agressivo contra “a mídia” veio a censura — já derrubada — que a Justiça de Tocantins impôs à divulgação das acusações contra o governador do estado, candidato à reeleição apoiado pelo PT.
Houve também uma manifestação de entidades favoráveis às teses do Lula de Campinas, e outra de gente que rechaçou essa linha presidencial. Aconteceu ainda um debate no Clube Militar, com a participação de jornalistas críticos do governo. Agora vem a público, a favor de Lula, um manifesto de advogados.
Nem consigo me lembrar da última vez que assisti a tamanha movimentação na assim chamada “sociedade civil”, expressão bem usada até a queda da ditadura e depois repaginada para atuar no impeachment de Fernando Collor. A palavra “civil” dava antigamente certo glamour à expressão, pela oposição semântica a “militar”.
Ainda que, conceitualmente, o alho nada tenha a ver com o bugalho. Como se notou no debate do Clube Militar.
Com a ascensão e a hegemonia do petismo, o termo “sociedade civil” caiu em desuso, substituído por “movimentos sociais”. Pode-se dizer que os “movimentos sociais” são a “sociedade civil” do PT. Uma acusação feita sistematicamente ao partido é que ele gostaria de reduzir a segunda à primeira.
Nota-se um certo cansaço da “sociedade civil” com os “movimentos sociais”, que justa ou injustamente vão levando o rótulo de “movimentos estatais”. E, como o curso do rio não pode ser simplesmente interrompido, a multiplicidade característica de uma formação complexa como a brasileira encontra novos caminhos, novas formas de expressão.
Eis mais uma realização do governo Lula. Conseguiu, à custa de muita saliva, muita fé na “luta política”, muita agressividade verbal e muita exibição de poder (e de disposição de exercer o poder), reabilitar a expressão “sociedade civil”.
Em boa medida contra ele, Lula, o que é um fenômeno novo. Por muito tempo, criticar o líder do PT era a senha para o sujeito ser apontado como elitista, preconceituoso, inimigo dos pobres e outras coisinhas mais. A turma mais progressista preferia não se expor.
Esse tempo acabou.
Boxeando
Tal como Rocky, o lutador, o Datafolha reagiu na reta final do primeiro turno e foi pioneiro ao apontar vazamento nas intenções de voto da candidata do PT, Dilma Rousseff.
Se a tendência for mesmo essa, especialmente se houver segundo turno, a corrida particular entre as empresas que fazem pesquisas eleitorais terá registrado nesta etapa um empate técnico.
Recapitulando. O Datafolha vinha de dois knockdowns (não confundir com “knockout”, o nocaute). Chegou atrasado à constatação de que Dilma tinha empatado com José Serra (PSDB). E chegou também com atraso à verificação de que a petista tinha disparado à frente.
Assim como para os candidatos, a disputa entre os institutos só acabará quando terminar. Diria Abelardo Barbosa, se vivo estivesse.
Aplaudido
O candidato do PSol, Plínio Sampaio, arrancou surpreendentes aplausos domingo do auditório no debate presidencial da TV Record, quando defendeu, entre outras coisas, que o Irã deve ter o direito de construir sua bomba nuclear e que os Estados Unidos são uma ditadura feroz.
Foi mesmo bastante aplaudido. O que é sintomático de um estado de espírito, que entretanto prefere ficar na moita, escondido atrás de platitudes e generalidades.
Se não houver segundo turno, terá feito falta nesta campanha presidencial uma discussão mais detalhada sobre política externa. Entre outras.
Coluna (Nas entrelinhas) publicada nesta quarta (29) no Correio Braziliense.
twitter.com/AlonFe
youtube.com/blogdoalon
Para inserir um comentário, clique sobre a palavra "comentários", abaixo
Foi o presidente da República quem introduziu a polêmica sobre liberdade de imprensa neste desfecho de primeiro turno. Luiz Inácio Lula da Silva explodiu contra a “mídia” num comício em Campinas (SP). Depois aparentemente acalmou-se e procurou acalmar os companheiros, noutro comício em Porto Alegre (RS).
A discussão sobre a liberdade de imprensa matou aquela mais complicada, sobre corrupção na Casa Civil. Mas Lula teve algum azar (coisa rara). Avaliou mal a reação que viria. E em seguida ao desconforto causado pelo discurso agressivo contra “a mídia” veio a censura — já derrubada — que a Justiça de Tocantins impôs à divulgação das acusações contra o governador do estado, candidato à reeleição apoiado pelo PT.
Houve também uma manifestação de entidades favoráveis às teses do Lula de Campinas, e outra de gente que rechaçou essa linha presidencial. Aconteceu ainda um debate no Clube Militar, com a participação de jornalistas críticos do governo. Agora vem a público, a favor de Lula, um manifesto de advogados.
Nem consigo me lembrar da última vez que assisti a tamanha movimentação na assim chamada “sociedade civil”, expressão bem usada até a queda da ditadura e depois repaginada para atuar no impeachment de Fernando Collor. A palavra “civil” dava antigamente certo glamour à expressão, pela oposição semântica a “militar”.
Ainda que, conceitualmente, o alho nada tenha a ver com o bugalho. Como se notou no debate do Clube Militar.
Com a ascensão e a hegemonia do petismo, o termo “sociedade civil” caiu em desuso, substituído por “movimentos sociais”. Pode-se dizer que os “movimentos sociais” são a “sociedade civil” do PT. Uma acusação feita sistematicamente ao partido é que ele gostaria de reduzir a segunda à primeira.
Nota-se um certo cansaço da “sociedade civil” com os “movimentos sociais”, que justa ou injustamente vão levando o rótulo de “movimentos estatais”. E, como o curso do rio não pode ser simplesmente interrompido, a multiplicidade característica de uma formação complexa como a brasileira encontra novos caminhos, novas formas de expressão.
Eis mais uma realização do governo Lula. Conseguiu, à custa de muita saliva, muita fé na “luta política”, muita agressividade verbal e muita exibição de poder (e de disposição de exercer o poder), reabilitar a expressão “sociedade civil”.
Em boa medida contra ele, Lula, o que é um fenômeno novo. Por muito tempo, criticar o líder do PT era a senha para o sujeito ser apontado como elitista, preconceituoso, inimigo dos pobres e outras coisinhas mais. A turma mais progressista preferia não se expor.
Esse tempo acabou.
Boxeando
Tal como Rocky, o lutador, o Datafolha reagiu na reta final do primeiro turno e foi pioneiro ao apontar vazamento nas intenções de voto da candidata do PT, Dilma Rousseff.
Se a tendência for mesmo essa, especialmente se houver segundo turno, a corrida particular entre as empresas que fazem pesquisas eleitorais terá registrado nesta etapa um empate técnico.
Recapitulando. O Datafolha vinha de dois knockdowns (não confundir com “knockout”, o nocaute). Chegou atrasado à constatação de que Dilma tinha empatado com José Serra (PSDB). E chegou também com atraso à verificação de que a petista tinha disparado à frente.
Assim como para os candidatos, a disputa entre os institutos só acabará quando terminar. Diria Abelardo Barbosa, se vivo estivesse.
Aplaudido
O candidato do PSol, Plínio Sampaio, arrancou surpreendentes aplausos domingo do auditório no debate presidencial da TV Record, quando defendeu, entre outras coisas, que o Irã deve ter o direito de construir sua bomba nuclear e que os Estados Unidos são uma ditadura feroz.
Foi mesmo bastante aplaudido. O que é sintomático de um estado de espírito, que entretanto prefere ficar na moita, escondido atrás de platitudes e generalidades.
Se não houver segundo turno, terá feito falta nesta campanha presidencial uma discussão mais detalhada sobre política externa. Entre outras.
Coluna (Nas entrelinhas) publicada nesta quarta (29) no Correio Braziliense.
twitter.com/AlonFe
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4 Comentários:
As reações levantadas às manifestações de cerceamento da liberdade de imprensa, prenunciam também que o medo de ser rotulado de golpista, neo-liberal, elite branca, descendentes do pessoal da caravelas, criminalizador de movimentos sociais, pig, preconceituoso, subserviente ao império, encarnação do mal etc. também foi embora. O ritual do beija mão, mixou. Devem acontecer mais alguns. Estes, para aproveitar enquanto o cafezinho ainda chega quente.
Swamoro Songhay
Ressabiado com os erros brutais dos institutos ao longo das eleições que acompanham, sirvo-me deles como referência dentre outras mais e dando a cada qual um peso relativo.
Não se trata de desmentí-los, até porque, geralmente é o que fazem entre si. Trata-se de refiná-los.
Não disponho dos dados exatos, mas se os tivesse, sobre as pesquisas divulgadas, aplicaria a média real de eficiência de cada instituto ao longo da carreira.
Provavelmente esse resultado estará mais próximo da realidade fática.
Alon, essa coluna esta especialmente viesada, coisa que não era comum nos teus escritos.
Sem prejuízo de discordar e respeitar o teu argumento creio que a parte referente ao Tocantins foi um golpe baixo retórico mais para o estilo do Merval do que o teu.
O Gaguim é do PMDB e portanto apoiado pelo Lula. Alíás, pelo critério de coligação 8 em cada 10 candidatos são apoiados por ele (e 9,9 em 10 o apóiam). Ou seja, isso não quer nada.
Mas o que é pior, censura por censura não citastes, também, e duvido que por esquecimento ou desconhecimento, o caso do Richa no Paraná. Esse sim do partido que apóia a liberdade de imprensa. Imagina se fosse um petista?
Sem desmerecer o fato de que todo cidadão que se sentir prejudicado, tem o direito de recorrer à Justiça. Se no Paraná, o impetrante fosse um petista, um santista ou outro ista, mereceria, no mínimo, uma chamada às falas. Da mesma forma que o PSDB deveria chamar às falas seu candidato. Parece que lá, no Paraná, o candidato da outra chapa, apoiada pelos petistas, também entrou na Justiça contra pesquisas. Imaginar se fosse um petista é totalmente desnecessário.
Swamoro Songhay
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