É sempre alguma coisa (18/07)
Dilma, Lula e o PT precisam dizer, antes da eleição, o que pretendem fazer com a maioria no Congresso. Obama disse e está fazendo, sem surpresas ou coelhos tirados da cartola
É notável que Barack Obama esteja conseguindo avançar na agenda dele, mesmo apesar dos baixos índices de popularidade.
O presidente americano já havia aprovado no Congresso a reforma do sistema de saúde. Agora conseguiu dos deputados e senadores uma verdadeira revolução no sistema financeiro, que passa a ser regulamentado em escala inédita na pátria operacional do liberalismo.
O presidente está em baixa nas pesquisas mas o partido governista, o Democrata, controla votos suficientes no Legislativo — e Obama tem domado bem a bancada, coisa nem tão comum na história dos Estados Unidos.
Um argumento forte para manter unida a base é que se o presidente fracassar arrastará junto para a ruína o resto da legenda. O recado da Casa Branca tem sido claro: não há salvação possível sem a união em torno do líder.
No fim do ano, Obama enfrenta as tradicionais e temíveis eleições de meio de mandato, com a renovação de toda a Câmara dos Representantes (deputados) e de parte do Senado e governos estaduais.
Temíveis porque já deu tempo de perceber a assimetria entre os sonhos da campanha e a realidade do poder. Mas não houve tempo para sentir os benefícios da mudança.
A hora da colheita ainda não chegou. Obama espera que ela venha daqui a dois anos, quando busca a reeleição.
Luiz Inácio Lula da Silva tem a popularidade que falta ao colega americano, mas não a maioria congressual. É por esse motivo que montou este ano uma estratégia para dotar Dilma (que ele supõe vá ser eleita) de votos suficientes no Congresso, especialmente no Senado.
Na passagem para o segundo mandato, Lula aliou-se a quem lhe dera trabalho na Câmara dos Deputados, resolvendo metade do problema. Agora age para descascar a outra metade da laranja, dando à dupla PT-PMDB maioria confortável no Senado.
Mas talvez, em respeito à sociedade, Lula, Dilma e a campanha do PT devessem ir além. Não só pedir o voto para fazer uma maioria folgada, mas dizer também o que pretendem fazer com esse belo ativo.
Tal detalhe dá outra dimensão ao debate em torno de que programa a candidata e a coligação vão finalmente registrar no TSE.
Interessa menos — acho eu — saber se Dilma assinou ou rubricou (há mesmo diferença entre as duas coisas?) a primeira versão petista, puro-sangue. Ou quantas versões afinal o programa terá. O que Dilma, Lula e o PT precisam dizer, antes da eleição, é o que vão fazer com a maioria, qual é a agenda legislativa da chapa.
É, aliás, um desafio a ser lançado para todos os candidatos.
Maioria sólida no Congresso é essencial, antes de tudo, para evitar a desestabilização. A ideia utópica de um governo de minoria, que opere a pauta legislativa em torno de vetores programáticos, buscando a maioria caso a caso, foi tentada por Lula no começo do primeiro mandato e não funcionou. Acabou sendo o embrião da gravíssima crise política de 2005.
Mas se ficar nisso, na obtenção da maioria pela maioria, um eventual governo Dilma nascerá velho. A candidata parece ter essa consciência ao tatear temas como a reforma política. Não basta, porém, tatear, ela tem que dizer mais especificamente o que vai tentar aprovar no Congresso.
Claro que podem aparecer coisas novas, a exigir iniciativas não pré-planejadas. A reforma financeira de Obama nasceu na crise planetária — que deu as caras só no finalzinho da corrida presidencial de dois anos atrás.
Promessas de campanha são só isso, promessas. A realidade sempre tem a prerrogativa de se sobrepor.
Mas mesmo as simples promessas servem de referência. Elas poderão ser invocadas no futuro, quando der aquela inevitável vontade de os governantes fazerem o que garantiram que não iriam fazer.
Não é nada, não é nada, é sempre alguma coisa.
Democrático
Registro a participação, ontem pela manhã, na mesa-redonda promovida pelo Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal como parte do encontro local para a escolha de delegados ao Congresso da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).
Com a participação da diretoria da Fenaj, foi um bom e democrático debate sobre os rumos da profissão e a sua regulamentação, objeto de decisões judiciais e de propostas de emenda constitucional.
Deseja perguntar-me algo?
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É notável que Barack Obama esteja conseguindo avançar na agenda dele, mesmo apesar dos baixos índices de popularidade.
O presidente americano já havia aprovado no Congresso a reforma do sistema de saúde. Agora conseguiu dos deputados e senadores uma verdadeira revolução no sistema financeiro, que passa a ser regulamentado em escala inédita na pátria operacional do liberalismo.
O presidente está em baixa nas pesquisas mas o partido governista, o Democrata, controla votos suficientes no Legislativo — e Obama tem domado bem a bancada, coisa nem tão comum na história dos Estados Unidos.
Um argumento forte para manter unida a base é que se o presidente fracassar arrastará junto para a ruína o resto da legenda. O recado da Casa Branca tem sido claro: não há salvação possível sem a união em torno do líder.
No fim do ano, Obama enfrenta as tradicionais e temíveis eleições de meio de mandato, com a renovação de toda a Câmara dos Representantes (deputados) e de parte do Senado e governos estaduais.
Temíveis porque já deu tempo de perceber a assimetria entre os sonhos da campanha e a realidade do poder. Mas não houve tempo para sentir os benefícios da mudança.
A hora da colheita ainda não chegou. Obama espera que ela venha daqui a dois anos, quando busca a reeleição.
Luiz Inácio Lula da Silva tem a popularidade que falta ao colega americano, mas não a maioria congressual. É por esse motivo que montou este ano uma estratégia para dotar Dilma (que ele supõe vá ser eleita) de votos suficientes no Congresso, especialmente no Senado.
Na passagem para o segundo mandato, Lula aliou-se a quem lhe dera trabalho na Câmara dos Deputados, resolvendo metade do problema. Agora age para descascar a outra metade da laranja, dando à dupla PT-PMDB maioria confortável no Senado.
Mas talvez, em respeito à sociedade, Lula, Dilma e a campanha do PT devessem ir além. Não só pedir o voto para fazer uma maioria folgada, mas dizer também o que pretendem fazer com esse belo ativo.
Tal detalhe dá outra dimensão ao debate em torno de que programa a candidata e a coligação vão finalmente registrar no TSE.
Interessa menos — acho eu — saber se Dilma assinou ou rubricou (há mesmo diferença entre as duas coisas?) a primeira versão petista, puro-sangue. Ou quantas versões afinal o programa terá. O que Dilma, Lula e o PT precisam dizer, antes da eleição, é o que vão fazer com a maioria, qual é a agenda legislativa da chapa.
É, aliás, um desafio a ser lançado para todos os candidatos.
Maioria sólida no Congresso é essencial, antes de tudo, para evitar a desestabilização. A ideia utópica de um governo de minoria, que opere a pauta legislativa em torno de vetores programáticos, buscando a maioria caso a caso, foi tentada por Lula no começo do primeiro mandato e não funcionou. Acabou sendo o embrião da gravíssima crise política de 2005.
Mas se ficar nisso, na obtenção da maioria pela maioria, um eventual governo Dilma nascerá velho. A candidata parece ter essa consciência ao tatear temas como a reforma política. Não basta, porém, tatear, ela tem que dizer mais especificamente o que vai tentar aprovar no Congresso.
Claro que podem aparecer coisas novas, a exigir iniciativas não pré-planejadas. A reforma financeira de Obama nasceu na crise planetária — que deu as caras só no finalzinho da corrida presidencial de dois anos atrás.
Promessas de campanha são só isso, promessas. A realidade sempre tem a prerrogativa de se sobrepor.
Mas mesmo as simples promessas servem de referência. Elas poderão ser invocadas no futuro, quando der aquela inevitável vontade de os governantes fazerem o que garantiram que não iriam fazer.
Não é nada, não é nada, é sempre alguma coisa.
Democrático
Registro a participação, ontem pela manhã, na mesa-redonda promovida pelo Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal como parte do encontro local para a escolha de delegados ao Congresso da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).
Com a participação da diretoria da Fenaj, foi um bom e democrático debate sobre os rumos da profissão e a sua regulamentação, objeto de decisões judiciais e de propostas de emenda constitucional.
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5 Comentários:
Mas, que mal lhe pergunte, Alon: tá tudo isso combinado com os russos?
Vão ganhar aqui, ali e acolá. Tá tudo dominado, as urnas serão mera burocracia e no tempo daqui até as eleições as águas estarão paradas.
Serra pode ficar em casa.
O eleitorado passou procuração.
Alon Feuerwerker,
Não sei não, mas me parece que este seu post está um pouco preciptado. Esta é uma discussão mais apropriada para o mês de dezembro. Agora, como bem diz o Marcos Coimbra no artigo "Planos e Votos" o eleitor quer ficar sabendo quem tem a proposta de dar continuidade ao governo Lula e quem tem a proposta de mudança.
Clever Mendes de Oliveira
BH, 18/07/2010
Diferenca entre rubrica e assinatura:
Rubrica: em todas as paginas de um documento.Nao necessariamente assinatura, somente um "visto" para indicar que a pagina foi lida antes do documento ser assinado.
assinatura:assina-se na ultima pagina do documento que eh o consentimento final do acordo firmado.
Ganhar eleições presidenciais e fazer maioria parlamentar, por antecipação, pode ser fruto de picada daquela famosa mosca. Ou então descrença total no desenvovimento social e econômico do País. Pode ser, afinal, que as pessoas que emergem social e economicamente, possam ser eternamente gratas a quem identificarem como propiciador. Mas isso não implica, necessariamente, em aceitar tudo passivamente. O eleitor pode tornar-se um estorvo. E como estorvo, tem a mania de contrariar previsões e azedar o gole de champanhe aberto e servido antecipadamente. Ou entornar o caldo, como ainda dizem no interior.
Swamoro Songhay
Quanto ao aspectos rubricas e assinaturas, são o de menos. Em situações normais, ambos remetem à pressuposição de leitura. Pode ser, porém, que o problema esteja mesmo no conteúdo.
Swamoro Songhay
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