Esperança e contaminação (28/04)
A Justiça deve cuidar de garantir uma eleição sem golpes baixos ou abuso de poder -político ou econômico. Mas isso não se confunde com eleição desidratada, homogeneizada, artificialmente adocicada
Dias atrás escrevi que o Brasil deve a Luiz Inácio Lula da Silva a antecipação da campanha eleitoral. A necessidade de estabelecer prematuramente uma hegemonia clara no seu próprio campo acelerou o relógio biológico do presidente. E ele colheu o prêmio desejado, Dilma Rousseff será a única opção oficial do governismo.
Mas a limonada não veio tão doce quanto o PT previa. O impulso de Lula não parece ter sido suficiente para fazer Dilma ultrapassar José Serra. Houve pesquisas a apontar empate técnico, ou quase, mas convém olhar mais algumas, pela prudência.
E junto com a limonada veio o limão. Como Lula e Dilma estão na estrada há mais dois anos, quando a oposição entrou no ringue carregava a faca nos dentes. Nas eleições anteriores, entre a desincompatibilização e a convenção dominavam a modorra e a politicagem. Agora não, é a política quem dá as cartas.
Devem ser meses fantásticos, quando tudo -ou quase- poderá ser debatido e discutido, com grau de liberdade bem maior, se comparado ao da campanha oficial. Não à toa os “pré-candidatos” são diariamente pressionados por perguntas sobre os grandes problemas nacionais. E Lula tinha razão: o perfil dos principais corredores faz pressentir a possibilidade de uma campanha programática.
É preciso agora que o Tribunal Superior Eleitoral não impeça a contaminação benigna da campanha pela “pré-campanha”. Não fará sentido tentar tampar a partir de junho o caldeirão fervente. Dentro das regras, será adequado o TSE deixar o barco correr.
Na internet, aliás, o próprio Congresso Nacional -pelas mãos do relator e deputado Flávio Dino (PCdoB-MA)- e o presidente da República -com vetos providenciais- cuidaram de garantir o ambiente propício à liberdade.
A Justiça deve cuidar de evitar os golpes baixos e o abuso de poder -político ou econômico. Mas isso não se confunde com eleição desidratada, homogeneizada, artificialmente adocicada.
O leitor deve desculpar esta minha quase euforia, veterano que sou de cobrir e/ou acompanhar as eleições presidenciais desde 1989. E aposto, pela primeira vez, que há possíbilidade real de uma disputa não totalmente enredada em factoides, em acenos vazios, em generalidades primitivas.
Espero sinceramente não estar errado.
Sem ritmo
É inafastável a sensação de que, tendo começado a aquecer sua campanha com enorme antecedência, o PT simplesmente não se preparou de maneira adequada para o momento em que ela começaria, de fato.
A razão? Só eles mesmos podem explicar.
Tudo tem limite
Pergunte a alguém escolhido aleatoriamente na rua o que entende por “tripé macroeconômico que garante a estabilidade monetária”. A chance de o sujeito (ou sujeita) responder corretamente deve ser a mesma de ganhar numa loteria.
Em seguida, pergunte se sabe o que é a taxa de juros, e pergunte se acha que os juros no Brasil estão altos ou baixos. Provavelmente dará uma resposta perto de correta à primeira questão, e é 100% garantido que a segunda resposta virá certa.
Quem defende a continuidade perene do tripé, das metas de inflação com câmbio flutuante (ainda que no nosso caso deva-se intercalar o “supostamente”) e controle fiscal, precisa urgentemente buscar um caminho para os juros descerem a níveis civilizados.
Todos os juros, da Selic até o cheque especial. Pois é razoável supor que se, um dia, o país precisar descartar o modelo acadêmico em troca de as pessoas poderem tomar dinheiro emprestado a um preço normal, vai fazê-lo sem pensar duas vezes.
Achar que o próximo presidente (ou presidenta) cometerá haraquiri político para fazer um ajuste que permita ao eleito em 2014 governar como Lula governou, na bonança, é acreditar em história da carochinha.
Ontem o vice-presidente José Alencar recebeu sua enésima -e sempre merecida- homenagem. E falou pela enésima vez o que pensa dos juros. O estilo monocórdico do vice tem levado a que ao longo dos dois mandatos de Lula suas posições sobre os juros venham perdendo impacto.
Tampouco o ajudou ele ter ficado contra o aperto monetário quando era necessário, lá no comecinho do governo.
Coluna (Nas entrelinhas) publicada nesta quarta (28) no Correio Braziliense.
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Dias atrás escrevi que o Brasil deve a Luiz Inácio Lula da Silva a antecipação da campanha eleitoral. A necessidade de estabelecer prematuramente uma hegemonia clara no seu próprio campo acelerou o relógio biológico do presidente. E ele colheu o prêmio desejado, Dilma Rousseff será a única opção oficial do governismo.
Mas a limonada não veio tão doce quanto o PT previa. O impulso de Lula não parece ter sido suficiente para fazer Dilma ultrapassar José Serra. Houve pesquisas a apontar empate técnico, ou quase, mas convém olhar mais algumas, pela prudência.
E junto com a limonada veio o limão. Como Lula e Dilma estão na estrada há mais dois anos, quando a oposição entrou no ringue carregava a faca nos dentes. Nas eleições anteriores, entre a desincompatibilização e a convenção dominavam a modorra e a politicagem. Agora não, é a política quem dá as cartas.
Devem ser meses fantásticos, quando tudo -ou quase- poderá ser debatido e discutido, com grau de liberdade bem maior, se comparado ao da campanha oficial. Não à toa os “pré-candidatos” são diariamente pressionados por perguntas sobre os grandes problemas nacionais. E Lula tinha razão: o perfil dos principais corredores faz pressentir a possibilidade de uma campanha programática.
É preciso agora que o Tribunal Superior Eleitoral não impeça a contaminação benigna da campanha pela “pré-campanha”. Não fará sentido tentar tampar a partir de junho o caldeirão fervente. Dentro das regras, será adequado o TSE deixar o barco correr.
Na internet, aliás, o próprio Congresso Nacional -pelas mãos do relator e deputado Flávio Dino (PCdoB-MA)- e o presidente da República -com vetos providenciais- cuidaram de garantir o ambiente propício à liberdade.
A Justiça deve cuidar de evitar os golpes baixos e o abuso de poder -político ou econômico. Mas isso não se confunde com eleição desidratada, homogeneizada, artificialmente adocicada.
O leitor deve desculpar esta minha quase euforia, veterano que sou de cobrir e/ou acompanhar as eleições presidenciais desde 1989. E aposto, pela primeira vez, que há possíbilidade real de uma disputa não totalmente enredada em factoides, em acenos vazios, em generalidades primitivas.
Espero sinceramente não estar errado.
Sem ritmo
É inafastável a sensação de que, tendo começado a aquecer sua campanha com enorme antecedência, o PT simplesmente não se preparou de maneira adequada para o momento em que ela começaria, de fato.
A razão? Só eles mesmos podem explicar.
Tudo tem limite
Pergunte a alguém escolhido aleatoriamente na rua o que entende por “tripé macroeconômico que garante a estabilidade monetária”. A chance de o sujeito (ou sujeita) responder corretamente deve ser a mesma de ganhar numa loteria.
Em seguida, pergunte se sabe o que é a taxa de juros, e pergunte se acha que os juros no Brasil estão altos ou baixos. Provavelmente dará uma resposta perto de correta à primeira questão, e é 100% garantido que a segunda resposta virá certa.
Quem defende a continuidade perene do tripé, das metas de inflação com câmbio flutuante (ainda que no nosso caso deva-se intercalar o “supostamente”) e controle fiscal, precisa urgentemente buscar um caminho para os juros descerem a níveis civilizados.
Todos os juros, da Selic até o cheque especial. Pois é razoável supor que se, um dia, o país precisar descartar o modelo acadêmico em troca de as pessoas poderem tomar dinheiro emprestado a um preço normal, vai fazê-lo sem pensar duas vezes.
Achar que o próximo presidente (ou presidenta) cometerá haraquiri político para fazer um ajuste que permita ao eleito em 2014 governar como Lula governou, na bonança, é acreditar em história da carochinha.
Ontem o vice-presidente José Alencar recebeu sua enésima -e sempre merecida- homenagem. E falou pela enésima vez o que pensa dos juros. O estilo monocórdico do vice tem levado a que ao longo dos dois mandatos de Lula suas posições sobre os juros venham perdendo impacto.
Tampouco o ajudou ele ter ficado contra o aperto monetário quando era necessário, lá no comecinho do governo.
Coluna (Nas entrelinhas) publicada nesta quarta (28) no Correio Braziliense.
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2 Comentários:
" governar como Lula governou, na bonança", como as pessoas esquecem rapidamente das coisas. Sugiro Alon que publique os números da economia quando Lula tomou posse. Exemplo: dólar, risco país, juros, reservas, e por aí cai, para comparar com o que o proximo presidente vai receber em 2011. Aguardo.
O próximo presidente receberá contas correntes com saldo negativo e crescente. Moeda nacional sobrevalorizada, necessidade de IED para fechar contas, taxa de juros real mais alta do mundo, investimentos aquém do necessário, gastos publicos correntes elevados e com rigidez para baixo.
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