Economia nos gestos e jogo duro (01/11)
Precipitou-se quem profetizou, diante das dificuldades iniciais, o inevitável fracasso da administração Barack Obama. Depois do Nobel da Paz, esta semana o presidente americano recolheu outros dois prêmios: 1) a solução do impasse hondurenho foi construída sob o tacão dos Estados Unidos -e debaixo dos aplausos de Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez; e 2) a economia da maior potência mundial trouxe números que mostram luz no fim do túnel da crise.
Em Honduras, os Estados Unidos agiram sem dúvida como potência: economizaram nos gestos para a plateia e jogaram duro com quem interessava. Os que preferiram aplausos da arquibancada acabaram a partida sentados no banco de reservas. Paciência. É o que os americanos chamam de "learning curve". Nossa curva de aprendizado. Potência não se senta na mesa do carteado para marcar posição, ou assegurar discurso. Entra para ganhar e sair com as fichas.
Se queremos ser potência de verdade, e não apenas no gogó, ou em reportagens e editoriais babosos da imprensa internacional, vamos aprender com quem já é uma. Usando o método japonês: em vez de reinventar a roda, copiemos. O comportamento da Casa Branca na crise de Honduras combinou dois vetores clássicos em sua política externa: a Doutrina Monroe, do presidente James Monroe, e seu complemento, o Big Stick de Theodore Roosevelt.
A primeira define, ainda que disfarçadamente, as Américas como área de influência natural dos Estados Unidos. A segunda diz como garantir isso (e outras coisas mais): falando macio e carregando um grande porrete.
“América para os americanos” permite uma dupla e conveniente leitura. Se “americanos” são só eles mesmos, a frase retrata um pensamento imperialista. Mas se somos todos americanos, do Alasca à Patagônia, então a interpretação é outra, mais comunitária. Já a fala doce e o porrete providencial saíram de um ditado africano, a que Roosevelt (não confundir com o outro mais famoso, Franklin Delano) deu ampla divulgação e expressão histórica.
O resultado está aí. Depois de passar quatro meses alternando o discurso de não ingerência e medidas econômicas e diplomáticas dolorosas, os Estados Unidos foram convocados pelo hemisfério e pelos hondurenhos a bater o pênalti decisivo. E o equilíbrio da balança mudou. Vamos aguardar as consequências.
Na Nicarágua, os sandinistas, sem apoio congressual para a reforma da Constituição, operam na corte suprema para qu os juízes simplesmente anulem a cláusula que proíbe reeleger o presidente.
O embaixador americano em Manágua andou criticando a manobra.
Claro que recebeu em troca a reação feroz do sandinismo. Ora, se os Estados Unidos são árbitro das pendengas internas em Honduras, por que não podem ser também na Nicarágua? Ou em Cuba? Ou na Venezuela? Ou em qualquer outro lugar?
Isso é apenas um exercício retórico, claro. Lula, Chávez e o nicaraguense Daniel Ortega apoiam a ingerência americana em Honduras porque é para reinstalar um aliado dos três na presidência do país. E defenderão furiosamente a soberania nacional de qualquer nação quando uma eventual intervenção americana ameaçar ali posições de poder “"amigas"”. É a diplomacia "à la carte". Só que falta sofisticação ao menu.
Essa precariedade doutrinária atrapalha no processo de liderança. Daí que a OEA tenha saído do episódio ainda menor do que entrou. Não foi chamada nem para recolher os salgadinhos que sobraram do coquetel. E daí que a formalização esta semana do pacto bilateral para o reforço da presença militar dos Estados Unidos na Colômbia tenha passado quase batida, como algo normal, natural.
Trio vencedor
O outro dado positivo para Obama, o crescimento do PIB americano, reforça uma constatação. O mundo entrou junto na crise e vem saindo também junto. Agradecimentos devem ser enviados principalmente a Pequim, Londres e Washington.
Os chineses estão dando um jeito de crecer 8% este ano, o que garante aos países parceiros uma boa expansão, agora e no futuro próximo. Os ingleses levarão para a História o mérito de terem dito, na hora exata, que nenhum preço seria caro demais para salvar os bancos. E os americanos entraram com a gastança.
O resto do mundo, de dedos cruzados e rezando, seguiu atrás do trio.
Pena que na ilha de Sua Majestade os ventos eleitorais sejam de ingratidão ao premiê trabalhista, Gordon Brown, que ordenou o toque de avançar a cavalaria na hora mais necessária, quando qualquer vacilação teria sido fatal.
Coluna (Nas entrelinhas) publicada na edição de amanhã do Correio Braziliense.
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