Vamos encontrar energia para dar o salto, para consolidar nossa democracia, com o amplo grau de liberdade que ela nos permite, como a viga mestra do nosso orgulho pelo Brasil?É impossível não notar o vento político da moda em Brasília: grupos e personagens que chegaram ao poder graças à democracia reclamam cada vez mais dos limites que a democracia coloca ao poder deles. O que antes era bom, agora virou problema. Coisas como a independência do Ministério Público, a existência de tribunais de contas, a liberdade de imprensa, as disputas no Congresso.
Até a internet entrou no rolo, com senadores e deputados quebrando a cabeça para descobrir como controlá-la durante as eleições.
E não pense que a pressão vem só do governo. Ela é pluripartidária. Ou suprapartidária. Tem petistas e tucanos, dos diversos matizes, e os vários satélites. Os políticos estão fartos de serem cobrados, acusados, constrangidos. Aí olham uns para os outros e perguntam: “Ora, mas se estamos todos de acordo quanto a isso, por que vamos continuar dando satisfações aos caras que só pertubam a nossa vida, que só atrapalham, que só nos criam problemas?”.
Circular por Brasília hoje em dia e conversar com alguns próceres, claro que em “off”, leva o sujeito a desconfiar que a consolidação da democracia entre nós não está uma Brastemp. Ao contrário, ela é vista quase como um estorvo, um transtorno com o qual se convive por necessidade. Talvez porque a Constituição assim estabeleça. Ou pela existência e atividade de um Supremo Tribunal Federal atuante e relativamente imune à onda.
Volto à internet, que é o exemplo mais gritante. Durante anos, atores políticos à margem do establishment saudaram a rede mundial como a ferramenta ideal para combater o oligopólio da informação. Agora que do ângulo técnico o objetivo está ao alcance, e agora que todos chegaram ao establishment, a pauta mudou: em vez de democratizar, a atenção se volta para como controlar. Ainda que esse controle possa convenientemente ser apresentado como “democratização”.
Outra moda recente em Brasília, esta boa, é o nacionalismo, objeto de colunas nos últimos dias. Aqui talvez seja o caso de olhar como os países cuidam cada um do seu. Eles dividem-se em dois grandes grupos: as nações em que a democracia é a base da defesa da soberania nacional e as demais, onde por vezes esta é usada como motivo para matar aquela.
Não há uma lei automática. Este mês marca o 70o. Aniversário do início da Segunda Guerra Mundial. Numa estatística, todas as democracias clássicas da Europa continental tiveram sua soberania suprimida pela Alemanha nazista naquela passagem histórica. Antes que a Alemanha fosse finalmente derrotada, com a contribuição decisiva da União Soviética. Tratou-se de uma situação extrema. Como regra, os países que deram certo foram os que fizeram da democracia sólida o alicerce principal de sua afirmação soberana.
Nem a China pode ser considerada exceção. O grande desafio posto ao gigante asiático neste século 21 é a abertura política.
Os que andam ultimamente por Brasília tentando sentir para onde sopram os ventos da moda ficam com esta dúvida, ou preocupação: será que vamos repetir os erros do passado -e de outros países- e subordinar nosso projeto nacional soberano a um único líder, a um único grupo? Ou vamos encontrar energia para dar o salto, para consolidar nossa democracia, e o amplo grau de liberdade que ela nos permite, como a viga mestra do nosso orgulho pelo Brasil?
Essa segunda opção implica concessões, especialmente do poder. Exige visão de longo prazo. Exige renunciar ao papel de salvador da pátria. Quem se candidata?
ConfortoA polêmica em torno do pré-sal fez passar batido o congelamento do juro básico pelo Comitê de Política Monetária. Segundo o Banco Central, não dá para baixar mais a Selic, por causa da poupança. Se é isso mesmo não se sabe. Mas o fato é que Luiz Inácio Lula da Silva não quer mexer na caderneta, e daí por que a turma do BC está confortável, politicamente, na sua opção.
Enquanto isso, os analistas estimam que poderemos crescer até 1% em 2009. Um espanto. Antes da crise, vínhamos a quase 6%. A China, que vinha a 10%, vai fechar 2009 com 8%. Ali não teve recessào.
FériasQuem fica com vontade de escrever colunas reflexivas, como esta aqui, é porque está na hora de sair de férias. É o que vou fazer. Até outubro.
Coluna (Nas entrelinhas) publicada hoje no Correio Braziliense.Leituras compartilhadastwitter.com/AlonFeuerwerker
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