Escolha racional no bunker (04/02)
Há certa estupefação diante da (cada vez mais) alta popularidade de Luiz Inácio Lula da Silva, dado que a curva ascendente coincide com a economia descendo ladeira abaixo. Uma explicação possível é que as pessoas ainda não têm a percepção da nova realidade. Eu prefiro outro caminho de análise. Lula está crescendo na crise porque quem se opõe a Lula não consegue responder a duas perguntas. O que o governo deveria fazer e não está fazendo? O que o governo deixou de fazer e deveria ter sido feito? Há os juros estratosféricos (do Banco Central para os bancos e destes para o tomador), mas a oposição não parece ter mais apetite para enfrentar o problema do que o governo. O ato de escolher um líder tem sempre a ver com a avaliação de seus atributos de liderança -e da adequação desses atributos aos desafios colocados. Imaginem um grupo de pessoas encerradas num bunker, enquanto suas casas são demolidas por bombardeios aéreos. E imaginem que o grupo não coloca em seu líder a culpa pelo bombardeio. A situação objetiva está piorando, já que eles estão perdendo suas casas. Mas isso não se reflete no prestígio do líder, já que ele, pelo menos, providenciou o bunker. Alguém vai morrer? É possível. Pode haver feridos? Sim. Mas se o líder tiver feito tudo que as pessoas acham necessário para enfrentar o problema é improvável que o grupo queira trocá-lo.
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10 Comentários:
Alon, parabéns disseste tudo.
Absolutamente correta sua analise. É para ver como os "analfas do bolsa familia", ignorados pelos tucademos sabem mais que eles.
Alon Feuerwerker,
Para quem tem pisado muito na bola ultimamente essa sua análise supera as expectativas.
Não sei se foi a sua intenção, mas como está redigido, parece que você descartou a possibilidade de as pessoas ainda não terem a percepção da nova realidade. Eu não descartaria essa possibilidade, e a avalio como fato importante. Como torço para o governo, espero que ele seja suficiente habilidoso para impedir que a nova realidade não perdure tal como está por tempo suficiente a possibilitar que as pessoas a percebam.
Outro ponto em que eu apresentaria uma análise diferente seria no tocante ao juro. Eu simplesmente não tocaria nesse assunto. Afinal, o que o juro estratosférico tem haver com a crise (Expressa no Brasil pela redução da produção industrial)? Absolutamente nada.
Se fosse para tocar no juro, eu escreveria esse texto seu dizendo que felizmente para o Brasil, enquanto o mundo todo entra em recessão com o juro lá em baixo e, portanto, com os Bancos Centrais praticamente com as mãos atadas, o Brasil possui um juro lá nas alturas que se o país precisar dar uma retomada na economia basta reduzir o juro em 10%, 20%, 30% 40% ou até mesmo 50% que a queda será mais do que suficiente para retomar até uma economia hibernando no Círculo Polar Ático
Clever Mendes de Oliveira
BH, 04/01/2009
Caro Alon,
Ótima análise, parabéns. O fato é que mesmo com a crise, o governo reina absoluto.
Sobra para a oposição apoiar as medidas que o governo vem tomando, reforçando ainda mais o apoio da população ao governo.
Jefferson
"a oposição não perece "...(mas não parece, né?)
Ato falho ou proposital?
As razões para a alta popularidade do Presidente Lula são basicamente duas:
1)O carisma que a história pessoal de Lula, seu discurso popular, com erros de concordância perfeitamente normais para as massas. A própria figura do presidente destoa tanto do modelo tradicional quanto da maioria dos seus congêneres de outros países.
2)Os programas sociais, a maioria combatendo os efeitos e não as causas, e que tem origem em idéias, projetos ou ações que já existiam em âmbito regional. Um exemplo é o Fome Zero, derivado da Campanha Natal Sem Fome, do saudoso Betinho.
Só a conjunção destes já garantiria uns 50% de aprovação para qualquer um. Soma-se a estes os anos de descaso dos governos anteriores e chegamos neste patamar histórico!
Desde o fim do regime militar, o Brasil foi governado por diferentes visões político partidárias. E em todas não conseguimos avançar muito, em qualquer direção! Passamos os anos 80 tentando pagar a dívida externa, com o custo da hiperinflação. Nos anos 90, aprofundamos o modelo neoliberal, desta vez ao custo de empregos, direitos e qualidade de vida.
Agora, vamos completar a primeira década do novo século com um crescimento mediano, fruto mais das condições mundiais favoráveis, e gastando tempo e dinheiro em Bolsa-família, Prouni, Projovem e outros que apenas atacam os efeitos (baixa-renda, escolaridade e trabalho) mas não as causas dos problemas (salários, modelo educacional e geração de empregos).
Lembrando que nestes 30 anos elencados, fomos superados por alguns países que, à rigor, não diferiam muito do Brasil nem tem à mão os nossos recursos naturais.
Diante dos desafios que temos de enfrentar (aquecimento global, crise alimentar, energia, combustíveis, etc) e das opções apresentadas por Lula, Dilma e os partidos da base, mesmo uma aprovação de improváveis 99% não afetará o Brasil... pode, quando muito, salvar a biografia do Presidente Lula!
E só para completar: não estamos num bunker, isolados do mundo em crise.
Devido as decisões equivocadas do Presidente, algumas contrárias ao que pregava, o Brasil está linkado ao resto do mundo!
A decisão salvadora seria uma retirada estratégica para posições menos dependentes de uma melhora geral. E, claro, dispensando os "remédios" tradicionais do "mercado" (consumir, consumir, consumir)!
A pesquisa da CNT, ainda que por pequena amostragem, aponta a baixa percepção da crise e suas conseqüências dentre a população. Entretanto, mantido o tranco atual, isso não invalida a tua opinião de que Lula dificilmente por ela será atingido.
Primeiro, é maior e mais ampla do que a sub prime americana, no entanto, a paternidade está consagrada: os Estados Unidos. E ainda tem cara: Bush. Atendido, em conseqüência, o primeiro pressuposto do álibi eficaz: “não fui eu!”.
Ademais, o governo pode afirmar que segue integralmente o receituário tucano-neoliberal, e que, portanto, se erro houve, é da invenção dos outros. Afastada a possibilidade do “eu não sabia”, se reforça o álibi alternativo: “não começou comigo”, “tem de olhar os outros!”.
Não há o menor risco de vir a ser desmentido. Ao contrário. A depender da oposição o boné não ficará no ar por um segundo. Consolida-se a defesa ideal.
Essa defesa é até desnecessária. Elege-se o governo e a oposição merecidos. E se um não apresenta grandes luzes, ainda menos se diz das qualidades dos opositores. Se esses existissem como tais.
Limitar a possibilidade de seus ataques à taxa de juros, esquece a cotidiana omissão com a fartura de oportunidades para a ação política oposicionista gerada por práticas governamentais não-ortodoxas, por assim dizer.
Muito menos há quem lembre as contradições do discurso pré-eleitoral e das ações no governo.
Um doce para quem na oposição tenha cogitado cobrar do governo não ter aplicado a política econômica que preconizava enquanto na oposição.
Nada se aprendeu com o PT velho de guerra e nem se aprenderá com os republicanos em plena inauguração do governo Obama.
Mas o gato está aí, gordo e presunçoso, o guizo também. Falta mesmo é quem saiba lhe dar o nó.
Não há, pois, como não concordar contigo. E tem mais. Em caso de nada dar certo, o FHC está aí para responder por qualquer coisa.
Seria até injusto se ocorresse o contrário. Lula é muito mais competente.
A história tem mostrado que crises econômicas sempre trazem impacto de igual intensidade no equilíbrio das forças políticas. É questão de tempo e prognóstico de quão intensa ou duradoura será esta depressão mundial.
Quase dois anos resta a este Governo. É pouco para quem etá lá em tempos de vento a favor. Porém, pode ser uma eternidade se a economia seguir ladeira abaixo.
Acredito, de qualquer forma, que o Brasil vai sair fortalecido e renovado desta crise.
Por que a popularidade de FHC - e a confiança no seu governo - despencaram quando das crises de então? O fato é que Lula faz um bom governo, apesar da crise. A oposição não sabe o que propor pois seu modelo faliu.
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