Um Atatürk árabe (05/01)
Infelizmente, é inútil discutir política, inclusive a política internacional, por um ângulo apenas ou principalmente humanitário. Por quê? Porque os bons sentimentos e a compaixão só entram no cálculo dos líderes políticos como uma variável relacionada à propaganda. Uma variável de segunda linha, subordinada a outras. Ontem, por exemblo, aconteceu o seguinte em Bagdá. Da BBC:
http://twitter.com/alonfe
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- Ataque suicida mata mais de 30 xiitas
Pelo menos 35 peregrinos xiitas foram mortos em um ataque feito por uma mulher-bomba neste domingo próximo a uma mesquita em Bagdá, informaram as autoridades iraquianas. Cinquenta e cinco pessoas ficaram feridas com a explosão na área de Kadhimiya, onde os peregrinos haviam se reunido para realizar uma cerimônia religiosa. As autoridades dizem que 16 dos peregrinos que morreram eram iranianos. A polícia afirma que o homem-bomba detonou as bombas que estavam presas ao seu cinto fora da mesquita de Imam Moussa al-Kadhim. Procissões de peregrinos xiitas pelo Iraque têm sido alvos de insurgentes sunitas. Eles estavam se preparando para um feriado que lembra a morte de Imam Houssein, um dos netos de Maomé. Na sexta-feira, 23 pessoas haviam sido mortas em um ataque suicida contra um encontro de líderes tribais sunitas em Yusufiya, 20 quilômetros ao sul de Bagdá. Cerca de 110 pessoas ficaram feridas.
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7 Comentários:
Então, Alon, se este é um blog de política, que tal discutirmos a campanha israelense em Gaza à luz das eleições de 10 de fevereiro? Afinal, ao que parece, o objetivo político do condomínio Olmert-Livni-Barak de neutralizar o discurso falcão de Bibi Netanyahu com a guerra contra o Hamas tem sido bem-sucedido, pelo menos nas pesquisas...
A respeito da "desproporcionalidade" da resposta israelense, o artigo do filósofo André Glucksmann no Le Monde de hoje é imperdível
http://abonnes.lemonde.fr/opinions/article/2009/01/06/gaza-une-riposte-excessive-par-andre-glucksmann_1138303_3232.html
Outro caso é o genocídio em Darfur.
Os mortos contam-se as dezenas de milhares, mas a cobertura jornalística, com algumas excessões, é infíma, tipo nota de pé de página.
Nehemias
Culpar Arafat pelo fracasso daquela reunião é simples hipocrisia. A proposta era inaceitável então e é inaceitável hoje. Seria concordar em retalhar o país e com a submissão eterna a Israel.
O blogueiro acerta muito, mas neste post derrapa. É excessivamente pró-Israel,o que,por outro lado, não deixa se ser previsível.
Sobre a invasão israelense de Gaza de agora vale o que o General Patraeus disse sobre a invasão americana do Iraque: 'Qualquer estudante de história sabe que não há solução militar'.
Quanto a Atatürk, foi o mais radical dos modernizadores ocidentalistas do mundo muçulmano e tal modernização fracassou, por desrespeitar com arrogância a cultura islâmica. São os filhos e netos de Atatürk, Nasser, Bem Bella e outros que questionam a ocidentalização forçada.
É preciso ultrapassar os paradigmas superados da Modernidade (a heuristica pós-moderna está aí para ajudar a quem tiver boa vontade).
O atual governo turco, dirigido pelo partido dos islâmicos moderados é o mais adequado, tanto para o País,como para o Mundo. A alternativa a ele são os fundamentalistas islâmcios de um lado e os laicos ocidentalistas de outro. Ambos só levarão a Turquia para o autoritarismo e\ou o caos.
Todos somos etnocentristas (e não é uma questão de escolha política), mas se se quer um mínimo de convivência pacífica é preciso reconhecer a inevitabilidade do outro, por mais que isso desagrade à nossa matriz ego-narcísica.
Atenciosamente, Fernando Trindade
Prefiro"Verão de ´42", onde a guerra,se faz presente,num simples telegrama.
Israel,tenta reduzir, essa empreitada, a uma ficção jornalística,produzida por correspondentes virtuais,onde a pedrada de um adolescente palestino,é mais grave, do que míssil de um F-16,ou bomba de fósforo, sobre uma escola,que irão pulverizar 40 estudantes.
Juro, não consegui terminar de ler o post. O trator da simplificação só sai da garagem quando você fala de Israel.
Bem, se o ângulo humanitário não é adequado para enquadrar a política internacional, então vamos tentar outros ângulos. Sob qual deles a solução militar israelense é ou pode ser vitoriosa? Apenas sob o viés eleitoral. Imaginar que a hostilidade cessará pela intervenção militar é ingenuidade, para ser eufêmico. O Hamas e os grupos terroristas vivem de fomentar o ódio contra Israel baseados em condutas como essas -- assim como a direita radical israelense se alimenta da intransigência dos dos radicais islâmicos.
Mas a comparação entre o atentado contra xiitas no Iraque é inominável. Quando uma nação que participa de todos os avanços políticos, institucionais e tecnológicos do ocidente resolve ignorar os direitos humanos mais elementares em prol de um ofensiva fadada ao fracasso em todos sentidos -- salvo o eleitoral --, não se pode, não se deve compará-la ao conflito entre etnias, apenas porque os conflitos em que todas as partes se envolvem apresentam números de mortos relativamente próximos. É uma simplificação grosseira e não vou me ocupar explicando o porquê da ilegitimidade da comparação, pois você já sabe.
Voltando às questões humanitárias. Bem, talvez os políticos não as tomem senão no interesse propagandístico, mas deveria ser diferente. Por isso é tão importante insistir na ênfase dada aos ataques israelenses. Os sionistas de bom caráter, embora não menos cegamente comprometidos em validar a ofensiva, insistem em comparar Gaza com outros conflitos no mundo, estranhando que não se dê tanta atenção aos outros focos de violência no mundo. Questão interessante, mas que em nada diminui o ônus israelense. Enjaular 1,5 milhões de pessoas, impedir que elas tenham acesso a comida, assistência médica, água, eletricidade, impedi-las de se proteger propriamente do frio, enquanto deflagram uma guerra sangrenta que faz pouca distinção entre combatentes e civis, é sem sombra de dúvida uma circunstância peculiar. Acima de tudo porque do outro lado não há apenas milícias e grupos de oposição armados e violentos, mas um dos principais exércitos do mundo, munido de armas sofisticadas na tecnologia e crueldade (as armas que se valem de fósforo branco). Às pessoas que não pesam esses aspectos talvez não caiba a designação de políticos, mas de assassinos. Pois a palavra se ajusta tanto aos que promovem a matança, quanto aos que ordenam e silenciam.
Afinal, esse post é sobre Israel e Gaza, não sobre o Iraque.
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