Mais torce do que age (09/01)
A Folha Online informa que o crédito consignado para aposentados recuou 72,9% em novembro, na comparação com outubro. Por quê? Porque os bancos acham que o teto dos juros nesse tipo de operação é baixo, 2,5% ao mês. Isso dá uns 35% ao ano. E é filé sem osso, adimplência garantida. Um spread lindo, se você fizer a conta de quanto o banco paga pelo dinheiro captado. Querem saber de uma coisa? Tanto o Banco Central como a federação dos bancos (Febraban) têm razão nas críticas mútuas. Está na coluna de hoje do Vinicius Torres Freire na Folha de S.Paulo (Incrível, fantástico, extraordinário):
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- "Fala sério" , disse mais ou menos Henrique Meirelles a Marcio Cypriano, presidente do Bradesco, que reclamava dos juros altos do Banco Central na reunião de lideranças empresariais com a cúpula econômica do governo, anteontem. Foi "incrível, fantástico, extraordinário", como dizia um velho samba da Portela, um banqueiro do porte de Cypriano, falando pela Febraban, pleitear em público a redução emergencial da Selic. Mais divertido ainda foi que Meirelles cobriu a aposta de Cypriano: disse que o problema não era a Selic, mas o "spread" bancário, a diferença entre a taxa de juros cobrada do público e o custo de captação de fundos pelos bancos. Desde outubro, o "spread" de fato passou a flutuar em camadas ainda mais altas e rarefeitas da estratosfera. Os juros "básicos" na praça, em termos reais, caíram para o piso histórico, a uns 7%.
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4 Comentários:
Prezado Alon
Há uma coisa errada no empréstimo consignado ao aposentado além dos juros.
O valor das aposentadorias está muito defasado, õs reajustes não tem acompanhado os reajustes do salário mínimo.
A aposentadoria que se recebe mal dá para cobrir os castos de saúde, principalmente de medicamentos.
Incentiva-se ao aposentado a fazer empréstimos, que tem que ser pagos com desconto no valor recebido do INSS.
Isto quer dizer que além de receber pouco o aposentado ainda vai ver seu rendimento reduzido pelo desconto do empréstimo.
Isto reduz ainda mais o que o aposentado recebe para suas necessidades básicas.
Paulo Paim apresentou um projeto para corrigir esta defasagem, projeto este que não vai passar pois tem a oposição do presidente Lula.
O que o aposentado precisa é de uma remuneração digna e não de um empréstimo consignado, que em nada ajuda ao aposentado, só ajuda aos bancos.
Lula realmente é um caudilho poplista que só sabe jogar para a torcida. Você tem 100% de razão ao dizer que ele mais torce do que age.
Alon Feuerwerker,
Como um ponto de vista de esquerda você está bem respaldado em defender o desenvolvimento puxado pelo mercado interno. Você tem um companheiro de jornada ilustre: André Lara Resende. Como um esquerdista, da entourage do PMDB, em 1986, aconselhou o governo Sarney a abrir mão de uma política voltada para o mercado externo que tinha assegurado em 84 um crescimento de mais de 4% e em 85 um crescimento de cerca de 7,8% (É claro que a inflação havia subido, mas isso era só problema político que podia ser resolvido reduzindo para uns 5% a 4% o crescimento nos 2 a 3 anos seguintes) e aconselhou a se adotar no lugar uma política de incentivo ao consumo interno. Em 8 meses o país estava de novo de joelhos pedindo ajuda a banca internacional. E a história se repetiu com Collor no período da Zélia (Houve o confisco é certo, mas na seqüência o cruzeiro ficou valorizado e acabou o saldo na balança comercial e o crescimento criando como única alternativa para o crescimento o mercado interno), com FHC no primeiro mandato dele e mesmo no segundo pois a desvalorização de 1999 foi logo equilibrada com uma inflação residual e um juro altíssimo (chegou a 45%) que deu fôlego à valorização do real e a impossibilidade de o Brasil competir no mercado internacional. Mesmo assim com a pequena desvalorização o país cresceu 4% em 2004 e continuaria a crescer se não fosse a barbeiragem sem tamanho do "Apagão Elétrico".
Não esqueça que o André Lara Resende, altamente solidário com a sorte dos mais pobres, que de certa forma são os que mais se sacrificam quando se adota a opção pelo desenvolvimento puxado pelo mercado externo, quando o plano naufragou passou a se dedicar a corrida de automóveis (nas horas vagas, pois em 93 abriu empresa com Luis Carlos Mendonça de Barros com capital de menos de 10milhões de dólares ou de reais (ou cruzeiros) e em 1995 ou 1996 extinguiram a sociedade com mais de 100 milhões de reais ou dólares)
Eu que sempre dei mais ouvido ao direitista do Ignácio Rangel não concordava com o argumento de que o imposto mais injusto fosse a inflação, mas sabendo das dificuldades políticas que ela causa para o chefe do executivo em países democráticos, principalmente quando há reeleição não me preocupo em que se utilize os instrumentos disponíveis para manter a inflação baixa. E concordo com o que o Ignácio Rangel dizia: o pior para a classe trabalhadora é o desemprego. Como países como Japão e Alemanha e agora a China se tornaram grandes potências com políticas econômicas de incentivo ao mercado externo não desejo outro caminho para o Brasil. Ainda mais que não sei de exemplo de país que se tenha tornado grande potência se que o início do desenvolvimento desse pais tenha se dado pela via do comércio exterior.
Clever Mendes de Oliveira
BH, 10/01/2009
Alon Feuerwerker,
Lula mais torce do que age. Se ele agir conforme você deseja, provavelmente o país irá se encaminhar para o desenvolvimento puxado pelo consumo interno.
Se ele agir menos mas evitar que o dólar fique abaixo de 2,20 provavelmente até o final do ano o país voltará a crescer e a passos firmes. A segunda opção, na sua opinião parece ser a de um fraco e incompetente, mas na minha é de um estadista.
Vamos ver qual é o caminho que ele vai percorrer.
Clever Mendes de Oliveira
BH, 10/01/2009
Caro Alon, já vi coisa mais bizarra. Também um diretor do Bradesco, creio que Lázaro Brandão, não lembro em que governo, mas antes do plano Real, disse que o governo tinha de baixar os juros, porque ele já estava cansado de ganhar dinheiro fácil. Engraçado como a idéia de que banqueiro sempre ganha com juros altos tornou-se um falso truísmo, mas ela só é verdade quando os bancos não passam de brokers da dívida pública e, portanto, não são propriamente bancos. Como o crédito no Brasil cresceu rapidamente nos últimos anos, e o Bradesco deve ter sido um dos bancos que mais participou nesse crescimento da oferta de crédito, a preocupação de Cypriano provavelmente não tem origem apenas em seu compadecimento com os ditos setores produtivos, mas com a perspectiva de perdas com a recessão. Não é propriamente o “pato político” que a Febraban não quer pagar, até porque esse “pato” eles pagam sistematicamente, em um país cuja ideologia hegemônica (de esquerda) enxerga os bancos como parentes próximos da bandidagem. Agora, mais engraçado, é ver burocratas experientes como Alan Blinder ou o ex-banqueiro Meirelles dizerem-se surpresos com a elevação dos spreads e a redução do crédito em momento de retração econômica, quando esse é o movimento defensivo natural, não apenas do capital sobre o qual “estão sentados”, é bom lembrar, mas também do dinheiro dos depositantes. A diferença entre banqueiros e burocratas está justamente aí: enquanto os primeiros precisam responder continuamente pelo valor do capital (acionistas) e de seus passivos (depósitos), os segundos contam com toda complacência da “viúva”. O mais absurdo da crise é justamente o Sr. Paulson torrar indiscriminadamente dinheiro público para corrigir a lambança regulatória em que sua repartição esteve envolvida, e vendendo a mentira de que evitaria a recessão. A diferença entre o pânico dos burocratas nos países centrais e a última decisão do Copom está justamente em que esta última sinaliza que por aqui ainda não vigora o salve-se quem puder, ainda que venha a se revelar exageradamente conservadora. Lá como cá, a recessão “está contratada” e tanto o Sr Paulson é impotente para impedi-la como a contribuição do Copom para agravá-la ou suavizá-la é marginal. O presidente deveria confiar mais em sua intuição, se a marola é um conceito físico relativo (podendo ir da marola criada pela queda de uma gota d’água à tsunami, que é a marola de um terremoto) o que se passa por aqui ainda é uma marola, e menos no aspone keynesiano que o incentivou a recomendar um comportamento irresponsável aos cidadãos, consumindo e gastando mais, para salvarem seu governo.
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