
Depois que
a falta do grooving (ranhuras na pista para escoamento de água) parece ter fenecido como explicação para o acidente com o vôo 3054, a curiosidade investigativa concentra-se na dúvida entre falha humana ou da máquina. Eu vou aqui, entretanto, discutir a questão do tamanho da pista de Congonhas e a ausência de áreas de escape. De início, trata-se de afastar o argumento de que o tamanho da pista é inadequado para o Airbus 320. Ninguém dizia isso antes de o avião atravessar a Washington Luís e explodir num prédio da própria TAM. Então não vale chegar agora e dizer que um Airbus desses não pode pousar em Congonhas. Não pode por quê? E de quanto teria que ser o tamanho ideal de pista para que Congonhas se tornasse capaz de receber um equipamento assim? A pista de Congonhas mede cerca de dois quilômetros. Como os aviões pousam a cerca de meio quilômetro da cabeceira, a pista útil é de no máximo quilômetro e meio. Vamos supor então que a pista devesse ser ampliada em um quilômetro e meio. Quem sabe 750 metros em cada extremidade? Para ficar com uns três quilômetros de extensão útil para o pouso. Mas isso não seria suficiente no caso do vôo 3054, pois, como se sabe, o avião guinou para a esquerda a 180 km/h. Então, naturalmente, precisaríamos de boas e amplas áres de escape laterais. Até para afastar o terminal de passageiros para bem longe do lugar onde pousam os aviões. Ou seja, seria necessária a desapropriação de uma área de centenas de milhares de metros quadrados (ordem de grandeza) em torno de Congonhas para esticar a pista e construir as áreas de escape. Agora olhem para o entorno do aeroporto na vista acima, extraída do Google Earth (clique na imagem para ampliar). E digam se é realista essa solução de aumentar a pista e fazer áreas de escape. Não é.
Há pessoas, como o empresário Benjamin Steinbruch, que perceberam isso e propõem diminuir o tamanho da pista, para restringir o tamanho dos aviões que pousam em Congonhas. É uma boa solução para uns poucos. Aqueles poucos que são vítimas habituais da verve do ex-governador Cláudio Lembo. Para a maioria dos paulistanos, porém, a melhor alternativa é a que propus em posts anteriores. Modéstia à parte. Fechar o aeroporto e transformar a área num parque público, com um shopping e um belo estádio. E usar parte da área para uma especulação imobiliária que gere recursos para ajudar a fazer todas essas coisas boas para o povo da cidade de São Paulo. E você, acha o quê? Aliás, quanto custaria para os cofres públicos cada metro quadrado desapropriado em torno de Congonhas? Não seria melhor usar esse dinheiro para facilitar o acesso a Viracopos e Cumbica?
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8 Comentários:
O Steinbruch disse o óbvio: se o problema é válvula de escape, encurte-se a pista. Se o problema é tamanho do avião pousando, limita-se o peso e o tamanho dos aviões que poderiam pousar ali (e nesse ponto, sou mais radical que o Steinbruch, em Congonhas e no Santos Dumont tem que pousar avião de até 130 passageiros, se a Boeing e a Airbus não têm aviões que cumpram esses requisitos, tchau e bênção).
Pronto. Congonhas voltaria a atender à função de aeroporto de fluxo rápido, que exerceu entre 1985 e 1994.
(De passagem: se os cansadinhos não estivessem tão preocupados em contar com o grande e importantíssimo apoio de Athina Onassis, estariam implorando pro governo colocar a idéia do Steinbruch em prática. Continuariam pousando do lado de casa. Mas pensar cansa.)
É, Alon, acho que a solução é mesmo fechar, tentando salvar toda a grana que já foi enterrada ali. Além do shopping e do parque, eu incluiria um cemitério no projeto e convidaria as famílias de todas as vítimas do aeroporto a levar pra lá as ossadas - ou melhor, os restos - de seus entes queridos.
Quando eu era garoto, também durante os jogos Panamericanos, caiu um avião perto da minha casa, próxima a Congonhas. Acho que foram 39 mortos. Eu tinha um parente que morava na cabeceira do Jabaquara. Quando íamos visitá-lo, mal dava pra conversar. A casa tremia inteira. O barulho das hélices era pior do que o dos jatos de hoje.
Com tudo isso, permitimos que o aeroporto fosse cercado pela cidade, como você inteligentemente demonstrou aqui. Onde estava a Prefeitura nesse tempo todo? A mesma que agora quer estender a pista. Pois é disso que ela vive: de metro quadrado. Uma cidade que se financia por metro quadrado construido só pode acabar enquadrada.
Na última sexta-feira assisti - na tucana TV Cultura, pasmem! - um filme sobre a máfia na Sicília, onde exatamente um prefeito mafioso permitia a construção de um aeroporto na cidade, contra a vontade da população. E não apenas isso: deixava outros mafiosos construírem prédios na cabeceira da pista.
Como sempre, a arte imita a vida. Só não vê quem não quer e todos nós não quisemos.
Alon,
Posso ser totalmente ignorante. Mas sempre acreditei que o melhor para Congonhas era fazer exatamente o que você propõe: uma bela área de lazer para o Paulistano, financiada com dinheiro do mercado imobiliário que financiaria, de quebra, transporte rápido e seguro para Viracopos e Cumbica. A "elite branca" poderia perfeitamente descer com seus jatinhos em Jundiaí e vir de helicoptero para o centro financeiro da captal. Aliás, não é o que eles já fazem hoje?
Dinheiro não é problema. Vai se gastar 3 bilhões (a poucos dias atrás era 2 bilhões) num "mordenoso" trem que ligará o centro de São Paulo a Cumbica.
Claro que obras como o Rodoanel, que tiraria o trafego de caminhões da cidade, e as novas pistas das marginais prometidas pelo governador, ajudariam e muito todos os paulistanos e não só aqueles que vão viajar de avião. Isso sem falar que o tal 20 minutos de acesso a Cumbica com o novo "possante" paulistano já é uma realidade com as marginais sem congestionamento.
Se Serra pensa em ganhar votos com esse nova obra, deveria fazer uma pesquisa com as pessoas que usam os trens que ligam a Zona Leste de São Paulo a Mogi das Cruzes. Posso garantir que ele vai perder mais votos do que ganhar.
Como disse Flávio Musa, presidente da VASP nos anos setenta sobre a desativação de Congonhas (ou transformação em parque): "Esta desativação só interessa a quem invadiu a área (por descaso da PMSP), especulou, comprou imóveis a baixo custo, pois todos sabiam dos inconvenientes sonoros e de tráfego, e hoje querem fazer um baita lucro imobiliário às custas de enormes custos logísticos para o país." Do blog de Jorge Hori.
Olha Alon, sua idéia e boa, não sei se é politicamente possível. Mas manter Congonhas como o Steinbruck falou é mais fácil. Passo sempre em SP para o sul de carro, e é patente a saturação da malha viária. Construindo-se o que falta do tal anel, se resolvem 2 problemas de uma vez só, o de Cumbica, e do engarrafamento da Dutra.
Como lembrou o comentarista, a Embraer não tem problemas em fabricar aviões de 100 lugares.
Essa conversa de vender prá depois entregar, quando é com o PSDB não funciona. A antiga ferrovia Sorocabana foi privatizada junto com a CONGÁS e a estação de Santos vendida para um hiper-mercado. Tudo para pagar um Veículo Leve sobre Trilhos em 1995. Até agora nada. Hoje o que se tem na região é a Viação Piracicabano do Constantino da Gol, que vence todas as licitações feitas pelo Estado. Essa viação é tão ruim que teve 1/3 dos motoristas afastados por licença de saúde! Imaginem como prestam o serviço.
Alon, você já pensou na Embraer? Porque não existem jatos da Embraer na malha aérea braileira?! Por que não aviôes econômicos de 118 lugares? Mais baratos, consomem menos querozene e que são brasileiros. Ideais para mais vôos diretos que desafogariam os grandes centros. Exigem pistas mais modestas e nunca cairam. Outros leitores já opinaram sôbre o assunto.
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