
Filmes são uma boa medida do código de ética das pessoas e de suas convicções mais íntimas. O cinema é maniqueísta. Mais do que na literatura, uma linha bem definida separa nas telas o bem e o mal. Não conheço filmes que apresentem como heróis personagens genocidas, torturadores ou sádicos.
De vez em quando, uma fita esquadrinha a alma de alguém intrinsecamente mau, para tentar desvendar a sua complexidade. E é só. Tampouco conheço filmes de prisão em que diretores autoritários e cruéis, ou guardas violentos , sejam os personagens para quem se deva torcer. Ao contrário, as películas clássicas descrevem a luta, em geral solitária, do prisioneiro que busca forças para proteger sua dignidade e tentar a liberdade.
Meus filmes de prisão preferidos são três, pela ordem cronológica:
Birdman of Alcatraz (1962, com Burt Lancaster),
Midnight Express (1978, com Brad Davis; na imagem, um cartaz da obra) e
The Shawshank Redemption (1994, com Tim Robbins e Morgan Freeman). Foram aqui traduzidos como Alcatraz, O Expresso da Meia-Noite e Um Sonho de Liberdade. Para o meu gosto, este último é o melhor de todos. Arriscaria dizer que é o definitivo sobre o assunto. Assim como
Saving Private Ryan (O Resgate do Soldado Ryan, com Tom Hanks) entre os filmes de guerra.
Filmes sobre prisões quase sempe fazem sucesso. No escuro do cinema ou em frente ao DVD no sofá de casa, costumamos torcer pelos presos em sua luta desigual contra a autoridade carcerária. Já na vida real, diante do noticiário, nossa primeira reação é clamar por mais violência contra os encarcerados. Não é difícil saber por quê. Os condenados dos filmes nada podem fazer contra nós ou nossas famílias, não os tememos. Ao contrário dos criminosos que freqüentam as notícias. Nos filmes, mesmo bandidos têm alma, família e sentimentos, algo que as seções policiais costumam amputar quando a pauta é sobre "marginais".
No Brasil, já foi chique um dia denunciar as péssimas condições das prisões, sua superlotação e o fato de serem escolas do crime, em vez de centros de recuperação das pessoas. Drauzio Varella ajudou, com o seu Estação Carandiru. Mas isso foi lá atrás. Hoje, silenciosamente, o pensamento dito progressista vai sendo seqüestrado pela reabilitação da selvageria, do espírito de vingança, do ditado bíblico "olho por olho, dente por dente".
No ramo do combate ao crime, como em outros, a última moda é ser reacionário. Socialmente reacionário. Antropologicamente reacionário. O raciocínio é conhecido: "Claro que a criminalidade tem também causas sociais, mas é preciso tratar os bandidos com mão de ferro. Direitos humanos, só para os humanos direitos". E viva as penitenciárias/solitárias, como a de Presidente Bernardes, no interior de São Paulo, onde a tortura "limpa" é institucional.
Paulo Maluf enfrenta o ocaso político, mas tem razões para comemorar: ele deixa uma marca, uma obra ideológica, pois seu discurso foi apropriado e absorvido por alguns adversários históricos. Um acólito seu está sentado na cadeira que já foi de Franco Montoro e Mário Covas. Levado ali pelas mãos dos herdeiros de ambos.
O governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), poderia já na madrugada de sábado ter aceito a ajuda federal. A capital teria amanhecido no fim de semana tomada por uma grande força de dissuasão, com o Exército, policiais federais e a PM nas ruas. O Estado teria se imposto com menos violência. Mortes teriam sido evitadas, de ambos os lados. Mas Lembo preferiu o outro caminho, apenas por razões políticas. Preferiu negociar com o Primeiro Comando da Capital (PCC) e não com o Palácio do Planalto, pois neste, circunstancialmente, trabalha um adversário do PFL.
Falta pouco tempo para Lembo voltar para casa. Menos de sete meses e meio. Em janeiro, o Palácio dos Bandeirantes estará habitado por José Serra (PSDB) ou Aloizio Mercadante (PT). Deus deve ser mesmo brasileiro -e paulista (apesar de o Papa João Paulo II ter sido carioca por adoção). Que Ele se apiede de nós e nos proteja até lá.
Ainda sobre prisões, clique aqui para ler
Attica: An Anniversary of Death. Vale a pena.
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